26/12/2007

O casamento de Gawain!

Boa Noite! Espero que todos os meus amigos tenham passado um Nata muito Feliz, na companhia das vossas famílias. Como sabem, sou viciada no ciclo Arturiano, e à uns dias atrás encontrei uma história sobre Sir Gawain, o sobrinho do Rei Artur, e achei que iam gostar de conhecê-la. Espero que gostem... aqui vai:
"Conta-se que no tempo do Rei Artur, o seu sobrinho Gawain, entrou numa floresta escura para fazer uma das suas inumeras buscas perigosas. Era um cavaleiro sem medo ou vergonha, que nada no mundo o assustava, a não ser o medo de decepcionar o rei ou de não poder responder aos apelos de uma donzela que cruzasse o seu caminho. Era um paladino soberbo, e embrenhou-se na floresta como se fosse tomar uma cidadela inimiga.
A floresta contraiu-se ao contacto desse macho tão seguro de si, que calcava sem cuidado, com os cascos sujos do cavalo, o tapete musgoso. Ela ficou aborrecida, áspera, cheia de silvas e espinhos que arranhavam as vestes do corcel e a armadura reluzente do cavaleiro. A floresta encheu-se de gritos fúnebres, tagarelice macabra, assobios soturnos, procurando barrar o caminho do visitante intempestivo. Gawain não tinha medo de nada, nem mesmo das sombras da floresta, nem do que não existe, e seguiu corajosamente o seu caminho.
Em breve, perto de umas sebes espinhosas e selvagens, viu uma forma corcunda e de pernas tortas, vestida com sacas e trapos, que lhe fazia sinais com uma mão seca, negra e engelhada como um ramo de videira. O valente cavaleiro puxou as rédeas da sua montada e observou com desgosto o ser monstruoso que lhe pedia ajuda.
Tratava-se de uma mulher, mas tão disforme e velha, que era quase impossivel avistar nela um vestigio de feminilidade. Parecia-se mais com uma feiticeira hedionda e diabólica, do que com uma mulher. Olhos raiados de sangue... nariz adunco... boca desdentada e torcida... queixo peludo e curvo... pele de macaca e pés de urso! Quanto à voz, era uma mistura de grasnar de gralha com rosnar de fera, e com essa voz horrenda ela pedia a Gawain o seguinte:
- Belo senhor, quereis casar comigo?
O pedido não tinha nada de atractivo, e um cavaleiro no seu perfeito juízo teria dado meia volta e fugido a galope. Mas Gawain não era um cavaleiro como os outros, além da sua coragem e da sua bravura, tinha feito da sedução ponto de honra na corte. Nunca tinha recusado os avanços de uma mulher, estivesse ela no estado em que esta se encontrava e que implorasse o seu amor. Ainda que o seu conceito de beleza continuasse a funcionar, Gawain elevou nesse dia a galantaria ao nível do heroísmo mais puro e respondeu:
- Será como quiserdes nobre dama!
Com um gesto cortês, convidou-a a montar no seu cavalo.
Puseram-se a caminho, mas algo tinha mudado. A floresta que estava hostil, abria-se agora à sua passagem, como uma flor à Primavera. O ar exalava aromas delicados e enchia-se de cantos de pássaros parasidiacos.
Em breve aproximaram-se de um castelo magnífico. Com a sua medonha voz, a feiticeira instruía Gawaina para ir até lá, pois era aí que morava, e toda a corte os esperava para celebrarem o casamento.
Gawain chegou a um local onde o levaram para o banharem e vestirem sumptuosamente para o casamento. Depois levaram-no à presença da sua prometida que também estava ricamente vestida. Apesar das ricas vestes não esconderem os seus horrendos traços, e quando ela sorriu a Gawain, mostrou uma boca negra com três dentes amarelos. O coração de Gawain quase parou, mas nada disse e pegou na mão enrugada da dama para a levar ao altar.
O casamento foi celebrado e seguido de um esplendoroso banquete. Toda a corte teve muito prazer nos festejos, excepto Gawain que temia o instante fatal em que teria de consumar o seu casamento.
Infelizmente, esse momento chegou, e a sua esposa com a sua voz horrenda disse:
- Meu bom príncipe, já é tempo de nos irmos deitar!
E levou-o pelas escadas acima até aos seus aposentos. Rugindo a dama pediu a Gawain que lhe desse tempo de se preparar antes de ir ter com ele à cama. O pobre cavaleiro pôs-se então a contemplar as chamas da lareira enquanto pensava no seu soturno destino. Foi então que ouviu uma doce voz murmurar:
- Vem agora!
Perturbado virou-se e afastou as cortinas do dossel da cama. Qual não foi a sua surpresa quando descobriu no lugar dafeiticeira, uma belíisima jovem, qual Afrodite, cabelos louros como o Sol e pele branca como a Lua. Deliciosamente nua, ela abria-lhe amorosamente os braços.
Amaram-se toda a noite, e de manhã a fada disse gravemente para o marido:
- Gawain, encontraste-me horrenda e amaste-me bela. Agora deves escolher. Preferes que eu seja horrenda de dia e bela à noite para te encher de mimos, ou horrenda de noite e bela de dia para poder brilhar ao teu lado na corte? Reflecte bem e diz-me por favor!
Gawain ficou perplexo, nenhuma das formas o agradava. Então ele disse à sua amada:
- Não posso escolher por ti, pois trata-se da tua pessoa, da tua vida. Cabe-te a ti escolher a aparência que quiseres ter. Feia de dia, bela à noite, ou ao contrário, eu nunca te amarei menos por isso!
A fada lançou-se-lhe nos braços extasiada e disse-lhe:
- Meu bom príncipe, disseste a resposta certa que quebra o feitiço de que fui vítima. Como me deixaste escolher, serei sempre bela de dia e de noite para te amar ternamente até ao final das nossas vidas!"

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